Faltam apenas dois dias para que eu complete 100 dias sem
cortes. Esses últimos dias tem sido realmente muito difíceis pra mim, mas qual
dia não é? Hoje em especial aconteceu algo, um momento que durou no máximo dois
minutos, mas que com certeza ficará marcado na minha memória para sempre.
O curso que eu faço na faculdade pede que eu desenhe
bastante e para apontar lápis de cor, entre outras coisas, eu preciso usar
estilete. Eu nunca tinha tido problemas em manusear um estilete, nem ao menos
havia pensado em me cortar com ele, pra mim ele era apenas um instrumento de
desenho. Mas hoje foi diferente.
Eu terminei de apontar o lápis, minha mãe estava no banho, e
de repente eu olhei pro estilete e simplesmente não consegui me mover. Tudo no
que conseguia pensar era em cortar meus pulsos com eles. Talvez não os pulsos,
mas qualquer parte do corpo. Eu fiquei pensando em que parte cortar ao mesmo
tempo que olhava pra data no computador e repetia pra mim mesma: “Será que vou
cair faltando tão pouco?”. Enfim, eu fiz algo que nunca vou esquecer: Eu
abracei o estilete. Eu o coloquei contra meu peito e o abracei como se fosse
algo que fosse mais necessário que a vida, algo que eu amasse mais do que a mim
mesma, algo que eu não via há muito tempo. Eu abracei com tanto amor e
cuidado...Eu não me cortei, mas esse ato me fez pensar. Me fez pensar no quanto
sou doente. Que tipo de pessoa abraça um estilete? Que tipo de pessoa ama uma
lâmina?
Elas significam muito pra mim. Significam calma, força,
companhia, identidade. São minhas velhas amigas que há muito não vejo e que provavelmente
não mais verei.
Purple Butterfly