quinta-feira, 29 de maio de 2014

Eu o abracei


Faltam apenas dois dias para que eu complete 100 dias sem cortes. Esses últimos dias tem sido realmente muito difíceis pra mim, mas qual dia não é? Hoje em especial aconteceu algo, um momento que durou no máximo dois minutos, mas que com certeza ficará marcado na minha memória para sempre.

O curso que eu faço na faculdade pede que eu desenhe bastante e para apontar lápis de cor, entre outras coisas, eu preciso usar estilete. Eu nunca tinha tido problemas em manusear um estilete, nem ao menos havia pensado em me cortar com ele, pra mim ele era apenas um instrumento de desenho. Mas hoje foi diferente.

Eu terminei de apontar o lápis, minha mãe estava no banho, e de repente eu olhei pro estilete e simplesmente não consegui me mover. Tudo no que conseguia pensar era em cortar meus pulsos com eles. Talvez não os pulsos, mas qualquer parte do corpo. Eu fiquei pensando em que parte cortar ao mesmo tempo que olhava pra data no computador e repetia pra mim mesma: “Será que vou cair faltando tão pouco?”. Enfim, eu fiz algo que nunca vou esquecer: Eu abracei o estilete. Eu o coloquei contra meu peito e o abracei como se fosse algo que fosse mais necessário que a vida, algo que eu amasse mais do que a mim mesma, algo que eu não via há muito tempo. Eu abracei com tanto amor e cuidado...Eu não me cortei, mas esse ato me fez pensar. Me fez pensar no quanto sou doente. Que tipo de pessoa abraça um estilete? Que tipo de pessoa ama uma lâmina?

Elas significam muito pra mim. Significam calma, força, companhia, identidade. São minhas velhas amigas que há muito não vejo e que provavelmente não mais verei.
Purple Butterfly

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Qual é o sentido de se viver sem esperança?

"Vivo ou só respirando?"
Me lembro de que quando era criança e no início de minha adolescência eu sonhava muito, tinha expectativas e esperanças em relação à vida. Nesse ponto eu já havia sofrido bullying e a vida já tinha sido bem dura comigo, mas por algum motivo meu coração continuava pulsando e acreditando. Às vezes eu queria que as coisas voltassem a ser como antes. Não que eu fosse feliz naquela época, eu já chorava sozinha em meu quarto e pensamentos suicidas já tinham surgido em minha mente, mas eles não me dominavam. Apesar da tristeza a minha vida funcionava. Eu tinha colegas, atividades, objetivos, esperança. Não sei exatamente quando foi, mas em algum momento isso mudou, a esperança morreu em mim, meus sonhos se desfizeram.

Eu não tenho esperança de que dias melhores virão. Depois já ter tentando o suicídio e ver minha vida chegar ao ponto mais baixo e obscuro do poço, meu coração não consegue mais acreditar. Ele já está totalmente rasgado e remendado, não aguenta mais ser arrebentado. Perdeu sua força, sua capacidade de acreditar. Não acredito em cura, não acredito em felicidade plena, não acredito em mim. E talvez você me pergunte: Se você não acredita em nada, por que parou de se cortar? Bem , geralmente aqueles que param com os cortes o fazem por ter descoberto seu próprio valor ou algo pelo que viver. Eu o fiz por duas razões. Primeiramente por estética. É muito difícil arranjar um emprego se você tem seus braços cobertos de cortes e minha profissão depende muito da aparência. E em segundo, por causa da minha mãe. Eu não aguentava mais ouvir o choro, o discurso dela toda vez que eu me cortava.

O que vou dizer agora talvez seja algo duro de se ouvir, mas se eu pudesse eu me trancaria em um apartamento e me cortaria todos os dias. Eu faria loucuras para ficar magra sem me importar nem um pouco com minha saúde. Eu não me importo comigo, não me acho merecedora. Como alguém vive sem esperança? Como e por que viver sem enxergar sentido na própria existência?  De fato, a única coisa que me conforta todos os dias é saber que um dia eu vou morrer inevitavelmente. Cada dia viva é um dia mais perto da minha morte. Eu estou dando o melhor de mim para suportar essa vida, ansiando desesperadamente pela minha morte.


Purple Butterfly
"As vezes dá preguiça, na areia movediça. Quanto mais eu mexo mais afundo em mim."
Danni Carlos